sexta-feira, 3 de junho de 2016

Histórias de vida


BRAVOOOOOOOOOOOOOO! 

MARAVILHOSO!

ESSENCIAL LER!....

Histórias de uma Guerra que o avô me contou ....

José Guerreiro, de 69 anos foi com 21 anos para a tropa.


Em 28 de Fevereiro de 1968, com 22 anos de idade, partiu para a Guerra colonial em Angola, no navio Vera Cruz. Até chegar a Lucano – Luso, demorou 14 dias.

Ficou 28 meses e meio na Companhia 23 61 e no Batalhão 28 43 como 1º Cabo – Radiotelegrafista – Era responsável por um posto de rádio e pela preparação de todo o material para a saída dos soldados em missões.


Participou em várias companhias, uma delas junto ao Rio Cassai. E fez várias visitas aos cidadão locais, que ajudavam e protegiam. Muitas vezes se sentou com as crianças a ensinar o abecedário, a cantar, e alguns a ler e escrever.


Nos tempos livres jogava-se futebol e muitas vezes iam até ao lago Dilolo, tomar banho.


A alimentação não era muito variada, comiam alguma caça e durante 18 meses comeram, ao jantar, arroz com salsichas e ovos e uma vez por mês, bacalhau.
Os helicópteros eram utilizados para transportar doentes, medicamentos e mantimentos.


Durante as missões cada soldado tinha uma ração de combate constituída por: 1 lata de sardinha, 1 lata de chocos, 1 pacote com 4 bolachas e dois pedaços de fruta cristalizada, para um dia.


Por estar na Guerra, no Ultramar, recebia 1500 escudos de salário, nos dias de hoje representa 7,5€ mas naquele tempo era um bom rendimento. Se não tivesse ido à Guerra receberia 500 escudos.

 A grande parte do dinheiro  que os soldados recebiam era para a família, pois os tempos não eram fáceis e a maioria das pessoas passava dificuldades.
Aos 16 anos perdeu o seu pai e a sua grande preocupação era a sua mãe que tinha ficado a gerir, sozinha, a padaria que possuíam.

Saiu em duas missões, uma delas, com os catangueses dando-lhes cobertura para realizar um ataque.

Em muitas deslocações eram atacados. Numa ida à cidade para ir buscar o correio, o capitão e o motorista estavam a 200m do quartel quando foram surpreendidos com uma mina (tática da guerrilha), que provocou uma explosão e consequentemente queimaduras em ambos.
Todos os soldados, ao ouvir a explosão saíram de imediato para prestar auxilio. Esta saída foi realizada por soldados armados, pois poderiam ser atacados.
 Lembra-se que eram 7h em ponto e que estava nesse momento a fazer a barba.



A família estava distante e as saudades eram muitas, a comunicação era feita por aerogramas.
Portugal ficava a 120 247 Km e esta era a única maneira da família receber notícias e os soldados também.


Benvindos sejais vós oh maçaricos ao Reino da Velhice.

Quando partiu para a Guerra não era casado, mas naquele tempo muitos soldados casavam por procuração e foi o que aconteceu com ele. A noiva tratou da documentação e, com o seu consentimento, casou no dia 10 de Abril de 1969, 15 meses antes de regressar a Portugal.

Nesse dia, recebeu o comunicado de que estaria a casar e foi comemorar com os colegas. Em Portugal  o seu cunhado representou-o na cerimónia.


Regressou a Portugal em junho de 1970.


Tanto tempo distante, numa guerra sem explicação. Muitos foram os soldados amigos que não conseguiram regressa para as suas famílias.

Muitos são os soldados amigos que trouxeram imagens de morte, de fome de luta por uma terra que não nos pertenciam.

José não concordou com a guerra, faz por esquecer os maus momentos embora muitas vezes acorde assustado como se ainda lá estivesse.


Todos os anos a companhia 23 61 se encontra para partilhar memórias de um tempo em que dependiam uns dos outros e lutavam pelas suas vidas.


Com esta passagem pela Guerra, José passou a dar mais valor à vida!





FIM



Martim Mendonça nº10 6ºD
Fonte: Familiar (Avô Materno)


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